O jornal britanico The Guardian oferece 25 libras esterlinas a cada carta publicada em sua coluna semanal: A letter to... (uma carta para...). Na última sexta o destinatário da vez foi J.K Rowling mundialmente famosa por ter criado Harry Potter e todo seu universo mágico. A emocionante carta conta como os livros ajudaram uma criança durante sua infância difícil e como as palavras de Rowling a influenciam positivamente até hoje. Acredito que todos nós que passamos anos lendo Harry Potter quando criança se sintam igualmente gratos pela perseverança e obstinação dessa mulher em conquistar o sonho de ter seus livros publicados. Pois muito além de uma história infantil, o mundo criado por ela se tornou, para toda uma geração, um lugar mágico, um espaço para que nossa imaginação voasse.
Veja a tradução da carta:
Uma carta para... J.K Rowling cujas palavras me ofereceram uma sensação de lar.
Vivi quase toda minha vida lutando contra a depressão, e
ainda luto. Mesmo assim, em meus momentos mais sombrios, suas palavras
mantiveram falando aos meus ouvidos e já é tempo de dizer obrigado. Quando eu
tinha oito anos, minha mãe foi diagnosticada com esclerose múltipla. Ela me
criou sozinha e com pouco dinheiro por mais ou menos seis anos, mas pela
primeira vez na vida dela ela se encontrou impossibilitada de cuidar de mim.
Eu rapidamente me tornei um fardo para o resto da minha família.
Meus avós, tias e
tios tinham ouvido em algum lugar que aquela ansiedade deveria ter sido causada
pelo fato de minha mãe me criar sozinha e a falta de dinheiro contribuía para a
ansiedade, eles achavam mais fácil culpar a criança – no caso eu – pela sua doença. Sem ao menos considerar os desastrosos efeitos desse comportamento na mente
de uma criança de oito anos, eles se recusavam a tomar responsabilidade pelo
(eu cito) “O monstro que destruiu sua mãe”.
Por quase dois anos eu me mudei de casa em casa, como um
peão em um tabuleiro de xadrez, de membro de uma família para a próxima. Não só
eu tinha perdido minha casa e a atenção cuidadosa e benevolente dada a mim por
minha mãe, mas também agora eu estava me sentindo culpado, indigno e tinha
perdido a confiança nas pessoas e em mim mesmo.
Para o bem ou para o mal, este foi um momento decisivo em minha vida.
Naquela época eu carregava minha vida inteira em uma mochila:
roupas, livros escolares, algumas canetas, duas fotos, relógio de bolso do meu
falecido avô e – Harry Potter. Seus livros, suas palavras e minha imaginação
foram então as únicas coisas que me proporcionaram um estável senso de lar. Eu
poderia voltar a eles sabendo com certeza que o mundo de fantasia que você
havia criado estava de alguma forma esperando por mim, onde quer que eu
estivesse. Eu poderia levar um universo inteiro dentro de mim e escapar por um
tempo desse meu pequeno e insatisfatório mundo que eu não pude impedir de cair
aos pedaços. Mesmo que agora eu entenda que o escapismo, nesse sentido, não é
uma solução, mas como um menino de oito anos de idade, era tudo que eu poderia
esperar.
Eu sou francês e as traduções francesas de Harry Potter eram
sempre publicadas com atraso. Tudo que eu pedi no natal daquele ano foi o seu último livro, em inglês, e um dicionário bilíngue. Eu passei semanas decifrando
o livro e produzindo, o que pode ser considerado por qualquer padrão, uma
tradução horrível. No entanto, eu tinha um projeto em minha mente, um objetivo, algo
para me manter ocupado, e isso me ajudou mais do que eu seria capaz de dizer.
Escrever essa carta hoje e olhar para a criança que eu era me faz sentir incrivelmente sortudo por você perseguir os seus próprios
sonhos e escrever os livros.
Eu cresci. Agora sou um estudante de pós-graduação em Inglês
e literatura americana em Sorbonne, escrevendo minha dissertação sobre um poeta
americano bastante obscuro. Eu completei uma tese de mestrado, que foi premiada nacionalmente e publicada, e eu passei dois anos incríveis ensinando francês
no Reino Unido. Ainda, até recentemente,
mesmo meus (pequenos) sucessos pareciam falhas para mim.
Quando eu me deparei com o espetacular discurso que você deu
na Universidade de Harvard em 2008 esta manhã, eu senti uma necessidade urgente
de escrever, mesmo sabendo que é muito provável que você jamais leia esta carta.
Pela primeira vez em meses, seu simples e honesto discurso me ajudou a mudar
meu ponto de vista. É só o começo de um novo entendimento para mim, mas as suas
palavras, mais uma vez me ajudaram, não da mesma forma, mas bem parecido de
como aquelas em Harry Potter me ajudaram a sobreviver anos atrás.
Tudo que eu quero é que você saiba quanto eu sou grato: suas
habilidades como escritora contribuíram para fazer meu mundo mais brilhante
quando eu mais precisei. Obrigado.
B.
Emocionante não é? Afinal nas palavras do próprio Alvo Dumbledore: A felicidade pode ser encontrada mesmo nas horas mais difíceis se você apenas se lembrar de acender a luz.
E você? Se soubesse que seu autor favorito receberia uma carta sua, o que escreveria?
Confira aqui o discurso feito em 2008 na Universidade de Harvard por J.K Rowling.
E aqui a carta original em inglês no The Guardian.
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